CÍCERO MELO
( Alagoas – Brasil )
Poeta, ensaísta e crítico literário.
Cicero Melo é alagoano, de União dos Palmare, nasceu em 195e mas reside no Recife/PE.
Participou ativamente da vida cultural do Recife na década de 80 quando da existência do Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco (MEIPE). Autor dos livros "O Verbo Sitiado", "Poemas da Escuridão" e "O Poema da Danação". Participou de várias antologias. É, também, ensaísta e crítico literário.
Biografia e foto em: https://www.blogger.com/´
A TERCEIRA PELE
Procuro a carne da palavra adusta,
Aquela que insorvida se consome,
Aquela cujo selo cai à fronte
Das palavras irmãs e se incrusta
Nas pedras da razão, no verbo nômade,
No dedilhar de febres e de angústias,
No delírio senil da sombra rústica,
Longa noite de sal e medo insone.
Procuro a carne da palavra augusta,
Aquela que se eleve e se prolongue
Em mistério sutil, sedosa e onde
Repouse mar, celebração e bússola.
Procuro a carne da palavra morta
Que se aviva, me bate e me conforta.
OS MORTOS
Agora todos mortos vão dormindo,
Diretamente para minha cama.
Deitam-se com seu sono terno, infindo.
Escondem a carcaça em meu pijama.
Dão-me todos os sonhos, sonhos idos.
Os sonhos que teceram sua trama.
Os meus sonhos dos mortos esquecidos
Dormem profundamente em minha cama.
Que não sei se estou vivo. Quero a vida!
Quando outros mortos tentar dar conforto,
Jogo o tempo na mente distraída,
Mas, uma voz me diz: o mundo é morto!
Afogados me ofertam água e vento;
Suicidas me dão armas e outra asa.
Alado, em sonho, mudo o pensamento,
Num turbilhão soergo a minha casa.
Mas esta casa não descarta um morto.
Os mortos nunca dormem, são serenos.
Levanto-me da cama — sem um porto.
Os mortos aos seus mortos cederemos.
Retorno ao quarto: abrindo a porta, atino
Intimidade pura e tão discreta:
Cantava meu avô para um menino
A canção de morrer sendo um poeta.
A TERCEIRA PELE
Procuro a carne da palavra adusta,
Aquela que insorvida se consome,
Aquela cujo selo cai à fronte
Das palavras irmãs e se incrusta
Nas pedras da razão, no verbo nômade,
No dedilhar de febres e de angústias,
No delírio senil da sombra rústica,
Longa noite de sal e medo insone.
Procuro a carne da palavra augusta,
Aquela que se eleve e se prolongue
Em mistério sutil, sedosa e onde
Repouse mar, celebração e bússola.
Procuro a carne da palavra morta
Que se aviva, me bate e me conforta.
A MOTIVAÇÃO ROSA
O que motiva essa rosa
além da acesa ternura,
senão o rubro que dosa
minha paixão e loucura?
O que teceu essa dor
que rosa essa rosa ativa,
senão os ventos do amor
em minha face cativa?
Casta rosa, que neblina
a rama de amar me tosa!
Vem cintilante assassina!
Rosa rosa rosa rosa!
PSIQUÊ
Asas desnudas, sempre ao som do outono,
lasciva à sombra, tecelã sem véu;
silvestre acende de fragrância, um céu
aos deuses ébrios, frenesi de sono.
Perfumes, poros, cortesãos sem dono,
O púbis plúvio, reiterado réu.
Eros inflama junto ao peito ao léu
os caminhos sedosos do abandono.
O botão da manhã enfarta a flor.
A alegria projeta a sombra rosa
nos doces sítios em que repousa amor.
E despertas, paisagem deleitosa,
os orgasmos finais de luz e ardor
da borboleta ao vento, incestuosa.
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Página publicada em maio de 2022
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